Mesmo não sendo arquiteto formado, Zanine Caldas deixou um legado incrível de casas no Rio de Janeiro, além de dezenas de projetos, móveis, paisagismo e maquetes. Seu nome até hoje é lembrado como um visionário que mudou conceitos e transformou a arquitetura no Brasil.
Nascido em Belmonte, no sul da Bahia, desde criança era fascinado por obras e serrarias. Filho de um médico, começou aos 13 anos a fazer presépios de Natal para os vizinhos, usando caixas de seringa de papelão de seu pai.
Mais tarde, teve aulas de desenho com um professor particular e, aos 18 anos, foi para São Paulo trabalhar como desenhista em uma construtora. Dois anos depois, Zanine abriu sua própria empresa no Rio de Janeiro, dedicada à construção de maquetes. Sua oficina produzia protótipos de projetos assinados por renomados arquitetos como Lúcio Costa, Oswaldo Arthur Bratke e Oscar Niemeyer.
Em 1948, em São José dos Campos (SP), ele se associou a Sebastião Henrique da Cunha Pontes e Paulo Mello para fundar a "Zanine, Pontes e Cia. Ltda", mais conhecida como "Móveis Artísticos Z", que produziu móveis para a classe média por 12 anos. Zanine desenhou móveis com forte influência modernista até deixar a sociedade em meados dos anos 50.
Nos anos 60, a convite de Darcy Ribeiro, Zanine tornou-se professor de maquete na Universidade de Brasília (UnB), mesmo sem diploma. Ele integrava seus projetos à topografia natural dos terrenos, evitando aterros ou alterações no solo. No entanto, após o golpe militar de 1964, perdeu o cargo e só foi reintegrado em 1987, sem voltar a dar aulas.
Perseguido politicamente, Zanine chegou a buscar asilo na embaixada da Iugoslávia, mas decidiu não viajar.
No final dos anos 60, ele reapareceu e se estabeleceu no Rio de Janeiro, onde construiu dezenas de casas no bairro de Joatinga. Sua arquitetura mesclava elementos coloniais e modernos, utilizando materiais que preservavam o meio ambiente e enfatizavam o conceito de autoconstrução. Nos anos 80, Zanine fundou uma oficina para antigos canoeiros em Nova Viçosa, onde reinterpretou tradições artesanais regionais. Ele sonhava em transformar Nova Viçosa em uma capital cultural, atraindo nomes como Chico Buarque, Oscar Niemeyer e Dorival Caymmi. Lá, ajudou a construir a residência do artista Franz Krajcberg.
Em 1980, Zanine fundou o Centro de Desenvolvimento das Aplicações da Madeira (DAM) no Rio de Janeiro, promovendo a pesquisa sobre o uso das madeiras brasileiras na construção civil. Seu objetivo principal era evitar a destruição das florestas do país.
Durante muitos anos, Zanine enfrentou polêmicas por não ser um profissional diplomado. O Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) chegou a impedi-lo de construir alguns projetos. No entanto, sua maestria técnica e conhecimento de materiais lhe renderam o reconhecimento como arquiteto honoris causa. Lúcio Costa foi um dos defensores do título, e em 1991, teve a honra de entregar-lhe o título de arquiteto honorário, atribuído pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
No final dos anos 80, o trabalho de Zanine foi exposto no Museu do Louvre, em Paris, trazendo-lhe reconhecimento internacional. Na mesma época, ele deu aulas na escola de arquitetura de Grenoble.
Zanine Caldas faleceu aos 82 anos, vítima de um enfarte. Já sofria de hidrocefalia e enfrentava dificuldades de comunicação e raciocínio. Casado seis vezes, deixou seis filhos, incluindo o arquiteto José Zanine Caldas Filho e o designer Zanini de Zanine Caldas, que segue os passos do pai e também é renomado por seus móveis.
Seu nome até hoje é lembrado como um visionário mudou conceitos e transformou a arquitetura no Brasil.
Por: Samuel Nery | Bahiasul News
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