Em uma ação de combate ao tráfico internacional de drogas e à lavagem de dinheiro, a Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (31/10/2024) um homem procurado pela justiça na região de Porto Seguro, sul da Bahia. A operação cumpriu um Mandado de Busca e Apreensão e um Mandado de Prisão, ambos direcionados ao suspeito que estava foragido após violar condições de prisão domiciliar.
O homem já havia sido detido em 2021, quando foi flagrado a bordo de um veleiro que transportava aproximadamente duas toneladas de cocaína com destino à Europa. Na ocasião, o esquema visava abastecer o mercado europeu com drogas de alta pureza, caracterizando um dos maiores fluxos de tráfico entre a América do Sul e o continente europeu. Após essa prisão inicial, ele foi liberado para cumprir medidas alternativas, mas o descumprimento das condições impostas levou à expedição de um novo mandado de prisão.
As investigações apontam que, desde então, o suspeito se tornou proprietário de um hotel de alto padrão em Trancoso, uma das regiões turísticas mais exclusivas da Bahia. A Polícia Federal considera que os ativos e investimentos do investigado sejam frutos das atividades ilícitas, como o tráfico de entorpecentes, que ele teria mantido por anos. Essa operação faz parte de uma série de iniciativas das forças de segurança no combate à lavagem de dinheiro e no desmantelamento de redes criminosas que utilizam o comércio e o turismo como fachada para ocultar o lucro do narcotráfico.
O hotel de luxo em questão foi identificado como um bem adquirido com recursos oriundos do crime, segundo apurações preliminares. A PF busca intensificar as investigações sobre a rede de contatos e a estrutura de negócios ilegais que sustentam operações de tráfico de drogas no estado da Bahia. Essa ação é um dos passos na repressão ao crime organizado que atua em escala transnacional, com ramificações que vão da produção e tráfico até a integração de recursos ilícitos no setor econômico.
Conexões
A operação da PF ocorrida nesta quinta-feira (31/10) pode ter ligação com o Caso Rich Harvest.
Em 22 de agosto de 2017, a polícia de Cabo Verde, após receber uma denúncia anônima, inspecionou o veleiro Rich Harvest no porto da cidade de Mindelo, na Ilha de São Vicente. Sob o assoalho da embarcação, em um compartimento coberto de cimento, encontraram mais de uma tonelada de cocaína, avaliada em aproximadamente 200 milhões de euros (cerca de R$ 800 milhões).
A tripulação do Rich Harvest, composta pelo capitão francês Olivier Thomas e os brasileiros Rodrigo Dantas (25 anos, estudante de engenharia e baiano), Daniel Dantas (43 anos, corretor de imóveis e também baiano) e Daniel Guerra (36 anos, gaúcho, formado em relações internacionais), foi alvo da operação. A apreensão resultou inicialmente na prisão do capitão francês Olivier Thomas e do brasileiro Daniel Guerra. Horas depois, Rodrigo Dantas e Daniel Dantas, que haviam sido dispensados da embarcação durante o trajeto, também foram detidos.
Os brasileiros Guerra e Rodrigo Dantas haviam sido contratados para uma viagem transatlântica no veleiro, propriedade do inglês George Saul, conhecido como “Fox.” A proposta oferecia uma oportunidade de acumular experiência e milhas náuticas, um passo importante para velejadores com o sonho de se tornarem capitães. Porém, o que começou como uma viagem promissora terminou com a descoberta de 1,2 tonelada de cocaína a bordo e a prisão dos brasileiros em Cabo Verde.
Investigações conduzidas pelo site BBC News revelaram que George Saul, apontado como o mentor do esquema, havia escapado antes da descoberta da droga. Foi constatado que as reformas realizadas no barco, sob sua supervisão no Brasil, incluíam a instalação de compartimentos secretos para o transporte de drogas. A conexão entre Saul e o tráfico só foi solidificada após as prisões dos brasileiros, com base em informações de colaboradores e das investigações conduzidas pela Polícia Federal do Brasil.
Detido na Itália em 2018, Saul conseguiu evitar a extradição e retornou ao Reino Unido sem responder judicialmente às acusações. Enquanto isso, os brasileiros foram condenados a dez anos de prisão, apesar de alegarem inocência. A pressão de familiares e a crescente evidência de que haviam sido enganados resultaram na anulação de suas sentenças em 2019, permitindo que retornassem ao Brasil.
Embora libertados, os brasileiros enfrentaram desafios para reconstruir suas vidas. Além do impacto psicológico, o estigma dificultou sua reintegração ao meio náutico. Já George Saul permanece em liberdade no Reino Unido e continua ativo no setor empresarial, sem responder formalmente pelo caso até hoje.
Comentários: