Difícil passear numa praia ou num parque sem encontrar uma embalagem de comida, uma garrafa pet vazia, tampinhas, palitos de churrasco, bitucas de cigarro. Foi juntando as atividades de lazer e esporte ao ar livre com a limpeza do meio ambiente que surgiu o plogging. O movimento começou na Suécia, mas faz sucesso no Brasil e, inclusive, em Porto Seguro, na Bahia. Por lá, já são 100 toneladas de lixo coletadas desde 2019.
O Plogging Porto Seguro, entidade sem fins lucrativos, representa o Instituto Limpa Brasil nas cidades de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália. O Limpa Brasil é o organizador das atividades do Dia Mundial da Limpeza, celebrado em 2024 neste sábado, 21 de setembro. Por todo o Brasil, acontecem atividades especiais que convocam a sociedade a realizar práticas sustentáveis e a adotar pequenas mudanças de comportamento que podem fazer a diferença.
A advogada Lisianne Gama, coordenadora do Instituto Plogging de Porto Seguro, começou a praticar plogging sem saber que o que fazia tinha nome, ainda mais um tão diferente. Ela saía com o marido e os filhos fazendo caminhadas e corridas diárias na praia enquanto recolhia o lixo que encontrava pelo caminho. Depois, amigos também aderiram e ela passou a divulgar num perfil no Instagram (ploggingportoseguroba) para quem quisesse participar.
Tendência
“Eu encontrava muito plástico e passei a publicar fotos no meu Instagram. Uma amiga de Minas Gerais me disse que eu estava fazendo plogging e que era uma tendência mundial. Foi quando pesquisei e vi que era uma atividade física e tinha até campeonato”, lembra.
Plogging é uma combinação da palavra sueca plogga (pegar) e da palavra inglesa jogging (correr) e significa correr e pegar lixo. Foi criada por Erik Ahlström, um esportista da Suécia. Apesar de trazer corrida no nome, a atividade pode ser feita caminhando, andando de bicicleta, remando, nadando ou praticando qualquer outra atividade física.
O que é encontrado
O que mais surpreendeu a advogada ao longo desses anos de prática foi o excesso de refrigeradores descartados na restinga, além de roupas e vasos sanitários. A ativista ambiental Mariana Moraes, de 40 anos, é de São Paulo e, numa visita à Península de Maraú, na Bahia, encontrou embalagens da China e Tailândia, escritas nas línguas originais, espalhadas na praia.
“Me assustou porque, provavelmente, foram coisas que vieram desses países pelo mar. Bastaram 15 minutos de caminhada pela praia e voltamos para a pousada para pegar sacos e poder coletar o lixo que estávamos encontrando”, lembra Mariana.
No litoral de São Paulo, onde atua com o projeto Verdes Marias, Vencedor do Prêmio Lixo Zero 22, diz já ter encontrado um quilo de bitucas de cigarro em apenas um dia e até produtos que já saíram de linha. “Já encontrei uma pasta de dente da marca Kolynos, que deixou de ser fabricada em 1997”, destaca.
Ao final, todo o material ganha um destino adequado. “Há um projeto que aceita tampinhas e outro que aceita bitucas. O resto eu coloco para reciclagem comum em pontos de recolhimento espalhados pela cidade”, acrescenta.
Plogging com as crianças
Mariana, assim como Lisianne, começou a praticar plogging com a família, ainda sem conhecer o termo. “Comecei a ter esse costume de fazer a brincadeira de catar lixo com meus filhos em praças e na praia. Com frequência, a gente acordava cedo e ia, eles me ajudavam a fazer a separação também”, relata.
Atualmente, ela e a família juntam-se a outras famílias de amigos dos filhos. Sempre de manhã cedo ou no final da tarde e sempre com luvas de proteção, de preferência de pano grosso, e sapatos. Ao longo da atividade, ela explica às crianças sobre a importância de uma caminhada atenta ao impacto que o ser humano deixa no caminho.
A filha tem 7 anos e, o filho, 5 e Mariana conta que os dois estão bastante acostumados com a discussão sobre lixo e adoram a atividade. “Para mim, o ponto chave do plogging é transformar isso em brincadeiras, é uma brincadeira deles na praia, eles fazem se divertindo, realmente gostam. Acho que é uma excelente atividade para conseguir engajar as crianças no cuidado com a responsabilidade ambiental”, compartilha.
Em Salvador, Itaparica e Vera Cruz, o projeto Ocean Care Brazil promove competições em ações de limpeza de praias que fazem sucesso entre as crianças. "Quando temos equipes maiores, fazemos caminhadas e corridas competitivas para a coleta de lixo. Quando há crianças, fica ainda melhor. Eles coletam tampinhas plásticas tentando consegui-las com mais agilidade do que o outro", conta a bióloga Meghan Bell, de 40 anos, idealizadora do projeto.
É uma alternativa, inclusive, à tradicional brincadeira de catar conchinhas, adorada pelas crianças, que pode fazer mal ao meio ambiente. As conchas desempenham papel fundamental no ecossistema marinho, abrigando organismos e ajudando a prevenir a erosão costeira.
É a crença no impacto de atividades como o plogging que sustenta o projeto Verdes Marias. “A gente chama de microrrevoluções essas ações individuais, defendendo que importam e podem criar tendências, inspirar outras pessoas. A gente acha que, por trás de instituições, empresas, governos, têm pessoas. E precisamos engajar as pessoas. Assim, aos poucos, conseguimos fazer a revolução”, defende Mariana.
Dia Mundial da Limpeza
O Dia Mundial da Limpeza, coordenado nacionalmente pelo Instituto Limpa Brasil, que conta com 91 milhões de voluntários em todo o país, faz parte da parceira credenciada do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Assembleia Ambiental das Nações Unidas (UNEA).
Todas as pessoas interessadas em participar podem acessar a página do Limpa Brasil para se registrar ou encontrar um evento em sua região.
Em Porto Seguro, as ações serão realizadas neste sábado (21), partindo do Complexo de Lazer Axé Moi, às 7h30. Primeiro, serão feitos exercícios de respiração e meditação e, depois, alongamento. Na sequência, serão feitas ações de limpeza nas praias, com aula de educação ambiental e triagem de resíduos. A previsão é de encerramento às 14h.
Em Salvador, também no sábado, acontece uma ação de limpeza, às 8h, no Parque da Cidade, promovida pelo Parque Social em parceria com o Instituto Limpa Brasil. Para participar, os voluntários devem preencher o formulário no site limpabrasil.eucuidodomeuquadrado.org.
No Porto da Barra, às 14h, o projeto Ocean Care Brasil fará um mutirão de limpeza. No domingo, às 8h30, outro mutirão acontece na Ribeira. Para quem quiser aderir ao projeto, o contato é (71) 999570081.
Por: REDAÇÃO | Bahiasul News
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